Metáforas à parte, foi o que aconteceu ao Kia Soul, lançado no Brasil em 2009. Com um estilo inusitado, meio hatchback, meio "micro SUV" (ou "carro-design", como diz a propaganda), o crossover fez sucesso entre a turma de moderninhos e descolados, como a própria Kia define o consumidor do modelo. Mas a restrição à gasolina impedia o modelo de alçar voos mais altos, principalmente na região sudeste, maior mercado do Brasil.
Pois isso deixou de ser um problema no final de 2010, com o lançamento do Soul Flex, modelo exclusivamente brasileiro que foi apresentado à imprensa nesta quarta (30). O Soul Flex manteve os preços da versão anterior, atualmente em queima de estoque. A manual parte de R$ 52.900, enquanto a automática começa em R$ 63.900.
 Por fora modelo praticamente não sofreu alterações
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Visualmente o Soul Flex é idêntico ao seu antecessor monocombustível, mantendo a ousada carroceria repleta de linhas retas e quinas arredondadas, escola de design seguida por Citroën C3 Picasso e novo Fiat Uno. As alterações estão restritas ao logo "Flex" no porta-malas, opção de trocas sequenciais no câmbio automático, painel de instrumentos com nova grafia e às maçanetas.
Agora basta puxá-las para fora para abrir a porta, enquanto o modelo anterior usava um sistema embutido. O motivo da mudança? "Atendemos os pedidos das mulheres, que quebravam as unhas ao colocar os dedos por baixo da maçaneta antiga", conta Ary Jorge, diretor de vendas da Kia.
O interior segue quase inalterado, o que não é um demérito. Diferente sem ser ousada, a cabine é forrada por materiais de boa qualidade, incluindo os plásticos, emborrachados em áreas onde os passageiros colocam as mãos (como os apoios nas portas) e de textura agradável onde é rígido. A iluminação do painel de instrumentos adota um vermelho similar ao usado pelos modelos da Audi, e o display de cristal líquido no console central tem boa leitura.
Mantendo a receita que ajudou no sucesso dos sul-coreanos e virou requisito no segmento, o Soul vem recheado. Na versão de entrada, chamada de U.111 (R$ 52.900), há trio elétrico, ar-condicionado, direção elétrica, CD player com MP3 e entrada USB, rodas de liga leve de 16 polegadas e airbag duplo. O ABS inexplicavelmente só surge na U.114 (R$ 58.900), junto com faróis de neblina e câmera de ré com display no retrovisor central. Rodas de 18 polegadas são o único diferencial da U.113 (R$ 60.900), enquanto o câmbio automático é oferecido na U.164 (R$ 63.900) e U.163 (R$ 65.900). Top de linha, esta última tem o interior de couro.
 Maçanetas mudaram para não quebrar as unhas das mulheres
A lista farta de itens de série acerta em cheio no concorrente do Soul ou melhor, concorrentes. O inusitado crossover acaba disputando mais de um segmento. De acordo com a Kia, a lista de rivais vai de Volkswagen CrossFox a Ford EcoSport, passando por Honda Fit e Renault Sandero Stepway. Mas não pense que a falta de foco em um mercado faz com que o Soul não atenda todas as expectativas, pois ele supera seus múltiplos concorrentes em quase todos os pontos.
Apesar de razoavelmente curto (são 4,10 metros de comprimento), o Soul tem um amplo espaço interno, mérito mais da altura (1,61 m) do que do entre-eixos (2,55 m). O espaço para a cabeça supera o Renault Sandero e Honda Fit, com a vantagem dos joelhos dos passageiros que vão atrás se manterem longe dos bancos dianteiros. Porém o espaço extra dos caronas foi obtido pelo porta-malas menor, com parcos 340 litros.
No quesito desempenho, o Soul continua fazendo bonito. Se na versão a gasolina (124 cv e 15,9 kgfm) o motor 1.6 16V não decepcionava, agora ficou quase um pocket-rocket, salvas as devidas proporções. As alterações promovidas pela matriz da Kia elevaram a potência do quatro-cilindros para 126 cv com gasolina e 130 cv com etanol, com o torque subindo para 16 kgfm com gasolina e 16,5 kgfm com etanol.
 Emblema na traseira diferencia Soul Flex da versão a gasolina
Durante test-drive de cerca de 130 km realizado por Interpress Motor entre Itu e Piracicaba (SP) foi possível atestar que o Soul continua divertido na hora de acelerar e virar, mas nem tão simpático na hora de parar. Com comando de válvulas variável, o motor do Soul é elástico, com entrega de torque e potência linear. Isso, somado à transmissão manual que equipa 60% dos Soul vendidos, torna o modelo prazeroso de guiar.
A assistência elétrica da direção não prejudica a sensibilidade do motorista, enquanto a suspensão firme compensa a dureza na hora de passar por buracos com estabilidade de sobra nas curvas e olha que estamos falando de um carro com quase a mesma altura do EcoSport. O controle de estabilidade seria bem-vindo, mas não faz tanta falta como outro sistema eletrônico.
Divertido na hora de acelerar e virar, o Soul não é tão simpático na hora de parar. Com pouca modularidade, o pedal de freio é borrachudo, similar ao dos primeiro Palio e Gol de quarta geração. Essa característica, somada ao fato de o Soul mais vendido ser o sem ABS, faz com que o motorista precise ter parcimônia antes de curvas mais ousadas. Se a ausência do sistema de segurança se repete nos concorrentes, o fôlego do Soul faz com que o modelo se exponha mais a situações perigosas.
Meta de vendas
As modestas alterações visuais e a entrada no clube dos alcoólatras deixaram as metas do Soul ambiciosas. O objetivo da Kia é pelo menos dobrar as vendas em 2011, com singelos 18 mil carros, contra 8.662 no ano passado. Porém a Kia já provou que a cifra não é impossível de ser obtida, pois a fabricante cresceu na mesma proporção nos últimos dois anos.
Outro dado torna a meta modesta, até. Comparando as vendas do primeiro trimestre de 2010 contra o mesmo período de 2011, o Soul cresceu inacreditáveis 205% (e olha que somente agora a versão Flex foi apresentado à imprensa, o que ampliará a divulgação do modelo). Não pense que tanto crescimento fará com que só se veja Soul nas 150 concessionárias (180 até o final do ano) da Kia. Com a previsão de lançar pelo menos mais cinco modelos em 2011, a fabricante quer subir 91% nas vendas totais, com 110 mil unidades faturadas, sendo somente 17% delas de Soul.
Após andar no crossover os objetivos de José Luiz Gandini, presidente da Kia do Brasil, não parecem tão altos. O modelo manteve o bom custo-benefício e a garantia de cinco anos e adicionou as demandas do peculiar mercado nacional. Como aquela menina do primeiro parágrafo, começar a beber álcool ao Soul não fará só com que o ele volte a ter destaque como o transformará em referência.
FICHA TÉCNICA Kia Soul Flex Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, flex, 1.591 cm³ de cilindrada Potência: 126 cv a 6.300 rpm (gasolina) a 130 cv a 6.000 rpm (etanol) Torque: 16 kgfm a 4.500 rpm (gasolina) a 16,5 kgfm (etanol) a 5.000 rpm Direção: elétrica Câmbio: manual de cinco velocidades ou automático de quatro velocidades Suspensão: dianteira independente, pseudo McPherson; traseira dependente, tipo eixo de torção Freios: a disco ventilado na dianteira e tambor na traseira (ABS a partir do catálogo U.113) Dimensões: 4,10 m de comprimento; 1,78 m de largura; 1,61 m de altura; 2,55 m de entre-eixos Peso: de 1.267 kg a 1.287 kg, dependendo da versão Tanque: 48 litros Porta-malas: 340 litros Preços: R$ 52.900 (U.111), R$ 58.900 (U.114), R$ 60.900 (U.113), R$ 63.900 (U.164) e R$ 65.900 (U.163)
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